quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Drummond e sua imensa sabedoria


As vezes paro para reparar na humanidade e vejo a que nível ela chegou.

Percebo que a vida humana se pauta hoje na construção. Construção de paredes e muros, não somente aqueles que protegem ou edificam suas casas, mas principalmente aquele que as separa cada vez mais.


Os muros de hoje separam ricos de pobres , brancos de negros, capazes de incapazes, entre outras distinções. Os muros que as pessoas insistem em construir não edificam construções de amizade, os muros construídos segregam. Dizem quem deve estar do lado bom ou do lado ruim.


Talvez por isso, se intitule "PAREDÃO" o processo de julgamento pelo qual os participantes de uma das grandes alegorias da televisão brasileira são submetidos.


Ontem ao ler um livro de poesias de Drummond percebi que ele também um dia reparou nesse paredões que as pessoas de sua época já construiam.


Paredão

Uma cidade toda paredão
Paredão em volta das casas.
Em volta, paredão, das almas.
O paredão dos precipícios.
O paredão familiar.

Ruas feitas de paredão.
O paredão é a própria rua,
onde passar ou não passar
é a mesma forma de prisão.

Paredão de umidade e sombra,
sem uma fresta para a vida.
A canivete perfurá-lo,
a unha, a dente, a bofetão?
Se do outro lado existe apenas
outro, mais outro, paredão?